por Delmo Fonseca
“Tomara que chova logo. Tomara, meu Deus, tomara. Só deixo o meu Cariri no último pau de arara”. O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951) durante sua labuta intelectual desenvolveu duas filosofias muito distintas. A primeira obra, "Tratactus Lógico-Philosophicus” foi escrita em 1921, tendo forte influência sobre os neopositivistas do Círculo de Viena. Já sua segunda obra, "Investigações filosóficas", fora publicada postumamente em 1953. Mas qual a relação entre o primeiro Wittgenstein e os compositores Venâncio e Corumba, que em 1956 gravaram o baião "Último pau-de-arara”, o qual se tornou um clássico da música popular brasileira, interpretado por grandes nomes como Fagner e Luiz Gonzaga?
No "Tratactus Lógico-Philosophicus”, Wittgenstein afirma que a linguagem figura o real, ou seja, para ele a conexão entre as palavras na proposição e sua correspondência entre os objetos no mundo é que determina a verdade ou a falsidade: "O que a figuração deve ter em comum com a realidade para poder afigurá-la à sua maneira - correta ou falsamente - é a sua forma de afiguração" (2.17). Venâncio e Corumba no verso citado expressam de modo verdadeiro a conexão, como diria Wittgenstein, entre as palavras na proposição e os objetos no mundo, a começar pelo anseio para que chova e regue a terra: “Tomara que chova logo. Tomara, meu Deus, tomara”. A chuva, via de regra, opera milagres, pois fixa comunidades inteiras numa determinada região, posto que a água é condição sine qua non para o plantio e criação de animais. Sem a chuva, o que prospera é a sequidão. "(...) E se não fosse uma raiz de mucunã arrancada aqui e além, ou alguma batata-branca que a seca ensina a comer, teriam ficado todos pelo caminho, nessas estradas de barro ruivo, semeado de pedras, por onde eles trotavam trôpegos se arrastando e gemendo” (Rachel de Queiroz, in “O Quinze").
Se de um lado os artistas desenvolvem uma “estética da seca", de outro o que se vê é uma perversa manobra política auferindo vantagens com a “indústria da seca”, expressão utilizada pela primeira vez por Antônio Callado (1917-1997), em sua obra “Os industriais da sêca e os Galileus de Pernambuco: aspectos da luta pela reforma agrária no Brasil” (1960). Ao denunciar esse descalabro no “Correio da Manhã, Callado chamou a atenção para a deletéria ação de determinados segmentos políticos que se beneficiavam de forma indevida de subsídios oferecidos pelo governo. De meados do século passado até pouco tempo, a cultura da corrupção em torno da "indústria da seca" prosperou a passos largos. Tome-se como exemplo o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca), órgão centenário, criado em 1909 sob o nome de Iocs (Inspetoria de Obras Contra a Seca). No ano de 1993 foi revelado que o ex-deputado Inocêncio de Oliveira (PFL/PE, Atual DEM), então presidente da Câmara, utilizou esse órgão para instalar dois poços artesianos em suas propriedades em Serra Talhada, no sertão pernambucano.
Ao dizer “até pouco tempo”, refiro-me ao fato de que o governo Bolsonaro tem mudado paradigmas no Nordeste. O Projeto de Integração do Rio São Francisco, por exemplo, se tornou o maior empreendimento hídrico do País. Os dois eixos, o Norte e o Leste, somam 477 quilômetros de extensão. Ao final, quando todas as estruturas e sistemas complementares nos estados estiverem em operação, mais de 12 milhões de pessoas de 390 municípios serão beneficiadas. Isso equivale a aproximadamente 7% da população brasileira ou 1/4 da população nordestina. Num depoimento a uma emissora de TV, um morador de Jati, cidade a 530 quilômetros de Fortaleza (CE), desabafou: "A água é a vida da gente. Aqui pra nós vai melhorar. Nunca vi tanta água, vou ver agora na barragem. Vou fazer plantio e melhorar a vida. Trabalhar na seca e no inverno. Com a água favorável ficou mais fácil pra gente viver aqui no Nordeste”. A infame permuta de votos por carros-pipa também foi atacada pelo governo federal, pois a parceria entre o poder público e muitos coronéis (proprietários das empresas prestadoras de serviço) consistia em contratos espúrios. Some-se a isso o trabalho do Exército Brasileiro , que até setembro de 2019, havia concluído a entrega de mais de 300 poços artesianos em sete estados da região. Será o que o extinto Dnocs teria condições de fazer o mesmo trabalho em tão pouco tempo com os mesmos recursos? É irônico que o retirante e ex-presidente Lula tenha se beneficiado politicamente da “indústria da seca” em vez de combatê-la, pois onde a fome prospera os oportunistas e exploradores se multiplicam.
Outro fator que pode ser atribuído às boas condições da terra diz respeito ao favorecimento da sensação de pertencimento. O ser humano sente a necessidade de pertencer a algum lugar e saber que esse lugar também lhe pertence. Embora os engenheiros sociais se empenhem para fazer do mundo uma aldeia global, o senso de pertencimento dificilmente deixará de ser local. Nesse sentido, fazem muito bem os nordestinos em apoiar efusivamente o presidente Bolsonaro, pois estes, muito mais agora possuem motivos de sobra para cantar: "Só deixo o meu Cariri no último pau de arara”.
Fontes:
https://www2.dnocs.gov.br/gab-cs/97-noticias-internas/3597-em-um-ano-mais-de-300-servidores-federais-sao-expulsos-por-corrupcao
https://www.fundaj.gov.br/index.php/conselho-nacional-da-reserva-da-biosfera-da-caatinga/10898-exercito-conclui-a-entrega-de-mais-de-300-pocos-artesianos-em-sete-estados-do-nordeste
https://www.gov.br/pt-br/noticias/transito-e-transportes/2020/06/aguas-do-sao-francisco-ajudam-produtores-do-nordeste
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