por Delmo Fonseca
Não,
não vamos falar de poesia, mas de liberdade de expressão. A poesia nos
emprestará seu método metafórico para afirmarmos que o ser humano, esse que
tanto carece de senso de pertencimento, somente se sentirá parte da ordem
social por meio da linguagem. E quem detém o poder simbólico, o poder de
conferir significado ao que é dito, via de regra busca o controle completo a
fim de ter esse poder assegurado.
Quando
nos deparamos com legisladores e magistrados empenhados em limitar a fala daqueles
que se expressam livremente por das redes sociais, tendo todo o apoio dos
maiores conglomerados de mídia, o que se deve aferir dessa “força-tarefa?”
Dentre várias respostas possíveis podemos dizer que todo mecanismo de controle
social possui seu ponto cego. E para exemplificarmos essa premissa temos o Parler,
a nova mídia social conservadora que chegou chegando.
Será
que essa nova rede chegaria com tanta força e agregaria em tão pouco
tempo a maioria dos conservadores por todo o mundo, se esse fenômeno não fosse
uma reação à supressão da liberdade de expressão por parte dos detentores do poder
simbólico? Estes são os mesmo que controlam as “minorias” impondo-lhes um
vocabulário restrito ao politicamente correto, que rotulam de fascistas quem
está fora do seu alcance, quem estabelece agências de checagem para determinar
se os fatos correspondem às suas narrativas. A princípio o Parler nos incita a
parlar (versão sincopada de parolar, falar muito), pois diferentemente do
Twitter, a nova plataforma oferece a possibilidade de digitar até 1000
caracteres em uma única postagem. De certa forma, o mecanismo prestou um grande
favor aos conservadores.
Nesse
caso, por que a poesia é necessária para entendermos o atual acontecimento? Simplesmente
porque a imagem poética nos faz economizar palavras. Em sua obra “Matéria de
Poesia” (Ed. Record), o poeta Manoel de Barros assim descreve o movimento da
liberdade:
“Quem
anda no trilho é trem de ferro
Sou
água que corre entre pedras:
–
liberdade caça jeito”
Quando
analisamos o último verso, “liberdade caça jeito”, percebemos que a água, por natureza,
busca um novo caminho. Assim é a liberdade. O mecanismo ainda não se deu conta
de que a liberdade individual é um direito natural, por isso quer impor o
coletivismo, o alinhamento compulsório: “Quem anda no trilho é trem de ferro”. Por
essa razão podemos inferir que o Parler é a janela que o conservador precisava
para continuar exercendo sua liberdade de expressão, afinal “liberdade caça
jeito”.
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