por Delmo
Fonseca
“Em política, até raiva é combinada”
Ulysses Guimarães
O
“Brasil não tem povo, tem público”, já dizia o grande Lima Barreto há cem anos.
A arguta observação se justificava ante a apatia e indiferença demonstrada pela
sociedade de sua época. Lima Barreto sabia que um povo caracterizado pela
passividade, “deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do
céu profundo”, como reza nosso hino nacional, tem poucas chances de chegar a algum
lugar.
O “público”
assistiu bovinamente à mudança do regime imperial para o republicano, a política
do café com leite, o Estado Novo, o regime militar e a redemocratização. A mídia profissional se encarregou de manter
esse espetáculo e incensar seus atores, de modo que a história política
brasileira sempre se valeu da encenação. Quanto aos três poderes da República;
o Executivo fingia que executava, o Legislativo fingia que legislava e o
Judiciário fingia que julgava. Assim, de tempos em tempos a mudança dos atores
se confundia com a mudança da dramaturgia.
E o que
mudou? Com o advento da internet o “público” quis ser povo, ou seja, sugerir um
novo roteiro e novos atores na cena política, o que desagradou os antigos
dramaturgos. Ao examinar a nova peça a ser encenada, descobriu-se que um roteiro bolivariano estava prestes a ser representado
no Brasil. Ao recusar o papel de expectador, mero público passivo, o povo se
deparou com a tirania dos "onze' administradores do teatro.
E o
que fazer com um povo que se cansou de ser público, que observa e critica os
atores políticos? A este se responde com mordaça, pois um povo que fala e critica
o roteiro e a encenação tende a estragar a festa. Para isso, os dramaturgos do
judiciário em conluio com os atores do congresso estão a reafirmar que ao povo
compete apenas pagar seus impostos e se comportar como público, sem direito a
vaias e comentários, apenas aplausos. O último ato foi a anulação do processo do maior ladravaz que esse país já teve. Afinal, o show tem que continuar.
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