por Delmo Fonseca
Você já concordou com algum marxista? Ok, a
pergunta é retórica, mas insisto: você já concordou com algum marxista?
Confesso que nos últimos dias uma frase dita por Galileu, personagem de Bertolt
Brecht na peça “A vida de Galileu”, tem ecoado em minha mente por longo tempo.
O dramaturgo alemão, marxista de carteirinha, apresenta um diálogo entre o
cientista Galileu e seu secretário Andreas, que espera do seu chefe uma postura
heroica diante do tribunal da inquisição. Nesse ínterim ele afirma: “Pobre do
Povo que não tem herói!”. Em seguida Galileu responde: “Não, Andreas! Pobre do
Povo que precisa de herói”.
A resposta de Galileu, que certamente vocalizava
o mesmo pensamento de Brecht, tem me chamado a atenção: “Pobre do Povo que
precisa de herói”. Até há pouco tempo o brasileiro médio se jactava de ter um herói
nacional, comprometido com os valores mais nobres da democracia liberal e
afeito à moral cristã. Esse herói, que destoou da maioria dos juízes e teve a
coragem de trancafiar o maior ladravaz destes trópicos, abriu mão da magistratura
a fim de servir ao novo governo da Mãe Gentil. Aos olhos dos “filhos deste solo”,
tal abnegação soou como mais ato heroico.
Mas como todo herói está sujeito ao autoengano,
a se ver maior do que realmente é, corre o risco de se achar super-herói. E se o
ego desse herói for inflado pela mídia e bajuladores que o cercam, o resultado
será a autodestruição. Nessa hora toda a sociedade se espanta, pois descobre a diferença
entre a realidade e a fantasia. E foi isso que aconteceu com o nosso herói: seu ego
não suportou o fardo da realidade, que daqui por diante tenderá ser ainda mais
pesado. Como bem disse o professor Olavo de Carvalho, “heróis genuínos fazem-se
desde dentro, na luta da alma pela verdade da existência. Antes de brilhar em
ações espetaculares têm de vencer a mentira interior e pagar, com a solidão
moral extrema, o preço da sinceridade”. Que o Brasil não precise
mais de heróis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário