
por Delmo
Fonseca
A
engenharia social é um fenômeno antigo. Ainda que num passado longínquo seus
executores a tenham nomeado de outra maneira, o que importa saber é que historicamente
sempre se buscou o desenvolvimento de iniciativas que pudessem influenciar
atitudes e comportamentos sociais em larga escala, tanto por parte de líderes
políticos quanto por grupos organizados. Nesse sentido, pensa-se numa interface
entre a ciência e a política, sendo esta um instrumento de poder. Em outras
palavras, engenharia social é apenas um nome pomposo para as tantas manipulações
efetuadas pelos poderosos deste mundo. E a quantas anda as atividades dos
engenheiros sociais do nosso tempo? A todo vapor, dirão os entusiastas do
progressismo.
Os
engenheiros sociais há muito declararam guerra aos conservadores, e nas
palavras do ex-senador americano Hiram Johnson, “numa guerra, a primeira vítima
é a verdade”. Decerto o contexto desta afirmação fora a I Guerra Mundial, porém
serve de metáfora para a guerra travada no campo da cultura. As visões díspares
se acentuam menos sobre a guerra do que a verdade, pois esta é o alvo da batalha,
por isso os engenheiros sociais negam, escondem, distorcem e até mesmo
sequestram seu significado real. Em termos éticos, a verdade se assenta sobre
um sistema de valores cultivados por uma sociedade. Porém esses valores se
coadunam, harmonizam-se com a natureza das coisas. A verdade não nega a natureza,
antes a valoriza. E os avanços alcançados são sempre a partir desta valorização.
No
entanto o que se observa é que há uma imposição do cultural sobre o natural,
isto é, os engenheiros sociais não se cansam de buscar uma maneira de empurrar o
progressismo goela abaixo de toda a sociedade. E de que forma têm ocorrido tais
imposições? Por meio da manipulação da linguagem. Se num determinado período
histórico a linguagem foi compreendida como um elemento estrutural até mesmo do
inconsciente humano, na presente era se caracteriza por suas possibilidades fluidas.
O que até então se mostrava sólido e sobre essa solidez se podia construir um
conhecimento duradouro, tornou-se liquefeito. Zygmunt Bauman, que expôs magistralmente
esse fenômeno da fluidez na modernidade, em sua obra “Medo líquido” aponta para
o fato de que nesse contexto “a palavra desempenha o papel de agente
contaminador”. Uma palavra líquida deixa de ser lastro, perde seu caráter essencial
e, por sua fluidez, torna-se adequável a quaisquer circunstâncias.
Nesse
diapasão surgem os oportunistas e desonestos intelectuais, para quem a verdade
é sempre relativa, produto de um constructo cultural que segue um incessante
progresso. Para estes, distorcer ou negar a verdade é apenas uma questão de
ajuste no discurso, não há implicações éticas e morais porque não existem valores
sólidos. Com isso, usam a palavra distorcida para contaminar a opinião pública.
É o caso de um contingente de jornalistas e acadêmicos que se prestam apenas a
desinformar e “plantar” notícias falsas. Dado esse malabarismo linguístico, o
valor de uma palavra está relacionado à própria conveniência do falso
informante ou a do seu grupo ideológico. No campo político, por exemplo, se os
progressistas estão no poder há democracia, caso contrário o que impera é o
fascismo; no cultural, nega-se até mesmo postulados científicos para a
consolidação de uma narrativa antinatural, de modo que nem os números escapam
(vide discussão em torno do binarismo).
Em
razão de tudo o que a engenharia social pode e deseja fazer, presume-se que a
verdade permanecerá refém por muito mais tempo, pois os pés dos que correm para
o abismo estão cada mais velozes. Por questão de conveniência aumentará a desinformação
e a distorção dos fatos, pois cada vez mais importará somente a narrativa. A
liberdade de expressão será criminalizada a fim de ocultar a multiplicidade de vozes,
os honestos intelectuais sentirão vertigens e seus detratores se regozijarão.
Quem sobreviverá à era da pós-verdade?
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