
por Delmo Fonseca
Tristes tempos em que as
narrativas se sobrepõem aos fatos. Primeiramente vamos aos fatos, depois às
narrativas. A Bolívia, depois de 13 anos, se libertou da tirania do ex-presidente
Evo Morales, que pretendia se eternizar no poder. A tentativa fraudulenta de
vencer as últimas eleições apenas quis repetir o que acontecera em 2016, ocasião
do plebiscito em que os bolivianos foram convocados para saber se queriam que Morales
buscasse seu quarto mandato seguido. O resultado foi frustrante para o
socialista, pois a maioria votou contra.
Desta vez, percebendo que seus
apoiadores lhe viraram as costas, Morales buscou uma saída honrosa anunciando
sua renúncia e em seguida foi se asilar no México. Outro fato importante diz
respeito ao líder da oposição, Luís Fernando Camacho, que ao adentrar o palácio
presidencial, fez questão de
colocar uma Bíblia sobre a bandeira
nacional e dizer que ali não era mais o lugar da deusa Pachamama, referência
espiritual dos povos indígenas dos Andes, também conhecida como “Mãe
Natureza”. Da mesma forma, a nova presidente Jeanine Áñez,
tão logo assumiu o cargo disse que a “Bíblia voltava ao Palácio".
E quanto às narrativas? Não
demorou muito e a velha cantilena do “golpe” ressurgiu. E não parou por aí. Uma
parte significativa de acadêmicos passou a exercer a famigerada desonestidade intelectual,
além da mídia operar sua escabrosa tática de desinformação, qual seja, a de que
os evangélicos bolivianos haviam arquitetado o tal golpe contra o caudilho cocaleiro
Evo Morales. Esta narrativa passou a ser
difundida nas redes sociais de modo escancarado, a exemplo deste comentário de Pedro
Aguiar, professor do Instituto de Arte e
Comunicação Social da UFF: “Claro que prefiro a paz, mas, neste contexto
concreto na Bolívia, torço ferrenhamente para que forças da resistência peguem
em armas e matem a tiros os fascistas e evangélicos que tentam destruir o país.
Fascistas não têm direito a vida [sic]”.
Se por um lado, num flagrante discurso
de ódio - prática da qual se acusa os conservadores-, nota-se o quanto os
esquerdistas são perversos; por outro, espanta-se com pastores que também defendem o indefensável. É o caso do Bispo Hermes C. Fernandes, que no seu Facebook
escreveu: “Lamento profundamente o envolvimento de igrejas evangélicas
brasileiras no golpe de estado promovido na Bolívia e que culminou na renúncia de
seu presidente democraticamente eleito Evo Morales, primeiro presidente
indígena de um país latino-americano”. É lamentável saber que um líder político
capaz de alterar o código penal de seu país com o objetivo de criminalizar com
penas de 7 a 12 anos de prisão aquele que for apanhado evangelizando,
consistindo num verdadeiro atentado à liberdade religiosa, ainda possuir quem o
defenda apenas pelo fato de ser um esquerdista.
Não há qualquer convergência entre
a cruz, a foice e o martelo. Ou Cristo ou Marx, ou Cristo ou Pachamama. Certamente
os bolivianos terão a grande chance de recomeçar, o que nos leva agradecer a
Deus por nossos irmãos que nesse ínterim clamaram por libertação, pois o verdadeiro
golpe consiste em negar ao cristão seu inalienável direito de lutar por uma vida
justa junto a uma nação cujo Deus é o Senhor.
O texto é aparentemente um discurso de quem concorda com a evolução, mas ao mesmo tempo chá a guerra para vencer os fascistas e evangélicos, o que deve prevalecer inesuravelvente é a vontade soberana do povo, que anseia por uma vida de paz, alegria e prosperidade. A vontade do povo deve ser ouvida primordialmente.
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